É preciso acabar com o “complexo de vira-latas” do esporte brasileiro. A Copa do Mundo pode ser o pontapé inicial.
Quem já teve a oportunidade de ler, estudar ou acompanhar os textos e crônicas geniais de Nelson Rodrigues, sabe que o termo “complexo de vira-latas” foi criado por ele para explicar a queda de desempenho do Brasil nos jogos decisivos de futebol contra outros países, antes do primeiro título em 1958.
Diretamente ou indiretamente, o termo também se encaixa com o posicionamento do País diante de seu próprio complexo de inferioridade, de sua mania de esconder suas incapacidades, de não expor ou sequer confrontar seus temores, deficiências e fraquezas. A imagem caricaturada, com a ajuda do samba, do carnaval, da alegria e da beleza natural, sempre jogou para debaixo do tapete a nossa incompetência administrativa para construir um Brasil melhor.
O tempo passou e o futebol brasileiro parece ter se livrado do tal complexo. Convenhamos, com cinco estrelas na camisa amarela, somos o verdadeiro pitbull dos gramados. Ótimo. Mas e os outros esportes? Sabemos da nossa aptidão, mas nossos atletas sofrem com a falta de estrutura, gestão e cultura com relação à atividade esportiva.
Em muitos casos, em várias modalidades, somos melhores ou tão bons quanto os atletas de outros países. Porém, na hora “h”, nos pesa a falta de preparo, seja ele psicológico ou de estrutura em termos de treinamento/ equipamento, enfim.
Nos bairros pobres e populosos, as estruturas para atividades esportivas são ainda ineficazes para atender a demanda. Nas escolas públicas, por sua vez, o esporte fica para escanteio. E se a iniciativa pública não promove a cultura esportiva, a iniciativa privada também tem menos estimulo para investir. É um infeliz circulo vicioso, que sacrifica talentos e emperra o nosso desenvolvimento.
Todos sabem que o esporte é ótimo para formar pessoas melhores, mas por aqui poucos enxergam nele também uma maneira de fortalecer a economia e gerar empregos e negócios consistentes. Isso precisa mudar radicalmente. O ano de 2014 precisa representar uma virada para o esporte brasileiro. A chance está aí, a Copa do Mundo precisa ser o pontapé inicial. E ainda tem Olimpíadas em 2016 no Rio. Marcas, profissionais, clubes, associações, instituições… Todos precisam perder a vergonha de arriscar, de ousar, de investir. É preciso aniquilar o tal complexo de vira-latas do esporte brasileiro.
Durante os próximos dois, três ou quatro anos, muitos oportunistas vão querer surfar nessa onda e ganhar dinheiro com o esporte no Brasil. São os paraquedistas de plantão. O desafio será construir algo consistente, que contribua para o desenvolvimento real das atividades esportivas nos próximos anos.
Os gestores tem uma chance de ouro nas mãos, mais valiosa que qualquer medalha, para mostrar que esses grandes eventos são apenas um aperitivo de como o esporte pode ser rentável para os seus investidores, patrocinadores e anunciantes. Esse é o legado que precisa ser batalhado. O amadurecimento da gestão, do marketing e do potencial do esporte brasileiro como gerador de negócios.
A bola já está rolando para o Brasil. Bons negócios e verdadeiros golaços para todos em 2014. O esporte comemora e agradece.