Com o capitalismo sendo o sistema político-econômico predominante no mundo, consumir não se restringe apenas a uma maneira de suprir as necessidades e desejos existentes em cada ser, para além disso, se apresenta como uma oportunidade de expressar a identidade, o propósito, crenças e o jeito de existir de cada pessoa.
Temos visto isso acontecer, presenciando um público que está cada vez mais em busca de marcas que os represente e se posicionam, e isso ficou claro no caso Flow Podcast, onde Monark, um dos apresentadores e co-fundador do programa, foi duramente criticado por falas que não só abrem espaço para a ideologia nazista, mas que também pedem a sua descriminalização.
Depois de uma comoção nacional nas redes sociais e imprensa, muitas marcas como a Flash Benefícios, Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, Insider Store, entre outras que patrocinavam o programa anunciaram a retirada de verba e se posicionaram contrárias ao que foi falado no podcast, o gesto também foi seguido por outros anunciantes que estavam presentes nos demais produtos do Estúdio Flow. Sem contar ex-patrocinadores que fizeram questão de reafirmar serem contrárias às ideias disseminadas ali.
Isso no mínimo sinaliza como o consumo tem evoluído de uma forma emocional e reativa, para um modelo mais consciente e ativista, onde as pessoas buscam por princípios e propósitos similares aos delas na hora de escolher as marcas que desejam usar e divulgar.
Essa onda que junta pessoas conscientes do poder político existente no ato de consumir, vem aumentando e é extremamente importante e positiva para o mundo por pelo menos dois motivos. O primeiro é que ela melhora o mercado, pois exige das marcas mais do que uma boa oferta regada pelos velhos gatilhos mentais, coloca elas em alerta e força um posicionamento contrário a acontecimentos dessa natureza, já que ninguém quer ter o mínimo de dúvida se está ou não consumindo de empresas com pensamentos nazistas, homofóbicos e racistas, por exemplo. E também melhora o consumidor, na medida que ele se entende como um agente de transformação, tendo como ferramenta o seu poder de escolha, de apoio, ou não as marcas existentes e disponíveis nas prateleiras.
Já para nós que trabalhamos na construção e gestão das marcas, esse momento indica claramente o que vai ser o desafio do branding daqui pra frente, o desafio que vai exigir das agências e dos profissionais construírem junto às empresas marcas que se relacionem com seu consumidor a partir de uma visão de mundo positiva, tendo no centro de suas ações o propósito e as as crenças que guiam e posicionam esta empresa no mundo, sabendo que isso terá o impacto direto e imediato de aproximar ou afastar as pessoas do ativo mais valioso de seu negócio, a marca.
Por Guilherme Apolinário / INSANE