O Yearbook 2024, edição colecionável de Casa Vogue que já está disponível nas bancas de todo o país, traz uma reportagem muito importante em que discute a relevância da identidade nacional no fazer design, ao mesmo tempo em que refuta o uso do termo regionalismo.
Designers, curadores e acadêmicos refletem sobre a influência dos diferentes territórios e culturas do Brasil nos móveis e objetos produzidos no país. Para a jornalista e curadora de design Adélia Borges, uma das profissionais ouvidas pela revista, “o design está vinculado ao território, à identidade local, por isso os grandes designers traduzem sua história em criações autorais contemporâneas, mas não estereotipadas.”
O designer mato-grossense Sérgio J. Mendes explica que a busca pela “alma” brasileira o fez investir em matérias-primas locais e se aproximar de diferentes técnicas, o que o levou a conceber uma série de móveis e objetos tão autorais que não demoraram a despertar o interesse internacional, com convites para expor na Europa e nos Estados Unidos. “O regionalismo está presente na minha produção, mas ela não se restringe a ele. As viagens para a Amazônia e tantos outros lugares, assim como minha mudança para São Paulo, acabaram influenciando meu trabalho”, afirma.
Para a designer gaúcha Ilse Lang, fundadora do Studio Faro, em Porto Alegre, o olhar para a cultura e as tradições de onde se vive é essencial para se diferenciar em um mundo globalizado. “O design não pode ser temático, mas não há como escapar das experiências vividas, que claramente vêm à tona quando estamos projetando algo”, afirma. A proximidade com o polo das indústrias calçadistas do Rio Grande do Sul, por exemplo, motivou Ilse a empregar conhecimentos da área em suas peças de couro, como é o caso das poltronas Sela e Envelope, idealizadas para a +55 Design. A região dos pampas é outra referência para ela, autora do premiado Tribo, de 2000, que remete aos banquinhos de galpão, usados para tomar chimarrão à beira do fogo. “A originalidade do desenho cria conexões com o lugar onde se vive”, afirma Ilse, citando o suíço Mario Botta, cujos projetos de arquitetura prezam pelas peculiaridades de diferentes regiões e culturas.
Para Domingos Tótora, à frente do seu estúdio que transita entre arte e design, localizado em Maria da Fé, na Serra da Mantiqueira, “o regional muitas vezes é visto como exótico. Prefiro situar minha obra como uma singularidade em um tempo não vivido, mas que se quer atualizar. Hoje, a pressa e a urgência de produção de novidades, rapidamente descartáveis, geram uma falta de sentido para a existência. Diferentemente desse comportamento das sociedades atuais, meus objetos concentram o olhar e impulsionam o toque, demandam um demorar-se na contemplação. O descartável ganha um sentido de permanência”, avalia ele, que recebe gente do Brasil e do mundo em seu ateliê, interessada em conhecer sua técnica e suas peças.
Participaram da reportagem outros grandes nomes do universo do design. Entre eles, a professora universitária paulista Fernanda Martins, filha de Ruben Martins (1929-1968), um dos precursores do design no Brasil; Giancarlo Latorraca, arquiteto e pesquisador; Renata Mellão, economista e fundadora do Museu A Casa do Objeto Brasileiro, instituição dedicada ao design e ao artesanato; e Alexandre Salles, coordenador de graduação e pós-graduação em Design de Interiores e de Mobiliário no Istituto Europeo de Design (IED), em São Paulo.
Confira o conteúdo completo da reportagem no Yearbook 2024 de Casa Vogue, disponível em versão digital e nas melhores bancas do país.