O universo dos negócios e da inovação parece pertencer aos jovens, mas já existem empreendedores de mais de 60 anos que são tão habilidosos com a tecnologia quanto os mais novos. O aumento da longevidade – só para se ter uma ideia, a expectativa de vida no Brasil subiu de 45,5 anos em 1940 para 75,8 anos em 2016 –, e a melhora na saúde como um todo estão promovendo mudanças na sociedade, fazendo com que uma grande parcela da população idosa empreenda, em especial na área de tecnologia e, mais ainda, na de negócios digitais.
No Brasil, segundo pesquisa feita pelo Sebrae sobre empreendedorismo na terceira idade, 40% dos entrevistados resolveram montar um negócio próprio após os 60 anos e a proporção de donos de negócio com 65 anos ou mais é 7% do total, o que dá cerca de 2,2 milhões de empreendedores nessa faixa etária. Ainda de acordo com o Sebrae, esses profissionais se diferenciam por serem mais seguros e corajosos e por terem credibilidade, mais tranquilidade, liberdade e respeito.
É o caso do empresário José Maria Alves de Almeida Prado, presidente fundador do DrApp, plataforma de marcação de consultas médicas e exames com preços acessíveis. Aos 71 anos, ele lançou o aplicativo DrApp, em 31 de julho, com a modalidade de telemedicina para o agendamento de consultas online. A empresa, que foi criada em 2018, é chancelada pela Associação Paulista de Medicina (APM). Além de marcar consultas presenciais e online pelo aplicativo, os usuários do DrApp também conseguem agendar exames laboratoriais com até 80% de redução do valor original.
Após aprovação temporária do Ministério da Saúde que viabilizou o atendimento a pacientes via teleconsultas, José Maria decidiu expandir o negócio ao público geral e proporcionar a democratização do acesso à saúde de qualidade. Até então, a plataforma atendia apenas pessoas inscritas em entidades representativas como AFPESP, CRECI-SP, CORE-SP, APCD, ABCD, CAASP e a própria APM.
Os planos de saúde privados perderam 3,5 milhões de usuários desde 2015. Com a pandemia, só em março e abril deste ano, 300 mil pessoas ficaram sem cobertura privada. “Em um momento de pandemia e isolamento social, as pessoas deixaram de fazer suas consultas médicas de acompanhamento, principalmente aquelas que perderam seus planos de saúde. Com o DrApp, vamos conectar essas pessoas a médicos chancelados pela APM, pelo computador ou celular, e oferecer uma redução de preço que, de fato, garante nosso principal objetivo: democratizar o acesso à saúde de qualidade, com toda a segurança e confidencialidade”, afirma José Maria.
Desde a criação da startup, José Maria investiu cerca de R$ 3 milhões na implantação da plataforma e, agora, no desenvolvimento do aplicativo. E o empresário não pretende parar por aqui: em 2021, a expectativa é que a iniciativa se expanda do estado de São Paulo para as principais capitais do país.
O DrApp possibilita o agendamento de consultas médicas com 3.428 médicos da APM, em 55 especialidades, para 108 municípios do estado de São Paulo. Entre eles, toda a Grande SP, Campinas, Ribeirão Preto, Sorocaba, Presidente Prudente, São José do Rio Preto, São José dos Campos, Santos e Guarujá. Para a telemedicina, os médicos são treinados e certificados especificamente para esse tipo de atendimento.
Caso o encaminhamento médico se desdobre para um exame, o aplicativo consegue até 80% de redução de preço em redes laboratoriais do estado de São Paulo, como a rede a+ Medicina Diagnóstica, do Grupo Fleury. Ao todo, são 190 unidades laboratoriais que atendem cerca de 2 mil tipos de exames, em 68 das principais cidades do estado.
Trajetória do CEO José Maria Alves de Almeida Prado
Em 1984, José Maria já atuava com um negócio próprio, voltado para o suporte técnico de impressoras. Ele conseguiu identificar um potencial negócio na assistência das fitas de tinta desses equipamentos, que, na época, eram importados e descartados após o uso. A solução criada pelo empresário reaproveitava os materiais existentes e promovia uma recarga de tinta sem efetuar a troca, devido ao alto custo.
Até 1990, ele atuou no segmento da cadeia de suprimentos e, a partir deste ano, passou também a trabalhar com equipamentos ergonômicos. De acordo com as necessidades trazidas pelos clientes, o empresário elaborava aparelhos para aprimorar o ambiente dos escritórios, como suportes de equipamentos e cadeiras especiais.
Pelos 25 anos seguintes, José Maria se dedicou à demanda dos bancos e call centers que prestavam assistência ao setor. Sua empresa, então, passou a oferecer soluções estruturais previstas e orientadas por decretos da época, como arredondamento de quinas de mesas, apoio para pés e assentos adequados, identidade visual (totens, letreiros, logos e placas), para instituições como Banco Nacional, Bradesco, Unibanco, Banco PanAmericano, entre outros. Com a competitividade do mercado e a concorrência das marcas, o empresário decidiu focar seus esforços em outra inovação: a tecnologia voltada para a área da saúde.
Em 2004, ele lançou o Sinasa – Sistema de Atendimento à Saúde, em parceria com a Associação Paulista de Medicina. Tratava-se de um novo sistema de acesso à assistência médica, que oferecia para a população o atendimento direto, sem intermediários, por profissionais de medicina de todas as especialidades, além de acesso a serviços hospitalares e exames complementares.
O serviço era comercializado por corretores e o empresário conseguiu fechar uma parceria comercial com o Santander. Posteriormente, novas parcerias foram firmadas com o BMG e o Banco PanAmericano. Ambos chegaram a fazer ofertas pela empresa, que acabou sendo vendida ao BMG. Com a venda, José Maria voltou a se dedicar ao trabalho com equipamentos ergonômicos de redes bancárias até 2018, quando criou o DrApp, em parceria com a Associação Paulista de Medicina e outras entidades representativas.