O crescimento constante dos casos de COVID-19, doença causada pelo novo coronavírus, alterou o padrão de preocupações do brasileiro. Pesquisa realizada pela Nielsen, entre 6 e 12 de abril, com mais de 3 mil lares que representam o cenário do consumo das famílias do país, aponta que 91% dos respondentes afirmaram estar preocupados com a Saúde, deixando Finanças em segundo lugar.
“A pandemia impactou diretamente a percepção do brasileiro em relação às suas prioridades. Desde 2014, as finanças pessoais eram o principal ponto de preocupação e agora isso vem em segundo lugar. É um movimento natural a consciência da população diante de uma crise sanitária, mas a projeção de orçamento familiar também foi impactada”, afirmou a especialista em entendimento do Consumidor da Nielsen Brasil Patrícia Almeida.
Patrícia se refere ao aumento no número de lares impactados financeiramente por essa crise, de acordo com a pesquisa. Entre os domicílios que não haviam sido abalados com a crise nos últimos dois anos, 80% declaram que, neste período de pandemia, serão afetados financeiramente e, por isso, pretendem economizar principalmente nos gastos com Roupas, Lazer e Comida Fora de Casa. Os lares que não foram impactados* representam 31% da população, com maior concentração em classes AB.
*A Nielsen considera lar que não foi impactado aquele que conseguiu honrar as contas e não sofreram com desemprego.
CONSUMO
Diante das restrições, com mais tempo em casa e com receio em relação ao futuro, os domicílios brasileiros passaram a fazer compras maiores para o abastecimento de suas despensas. Nesta pesquisa, a Nielsen identificou uma diminuição de 6,5% na frequência de compra, porém registrou um aumento no número de itens levados na cesta em 22% na última semana de março de 2020, frente ao mesmo período de 2019.
Um retrato deste momento de aumento de intensidade (maior número de itens levados na mesma ocasião de compra) é o Cash&Carry, usado principalmente para abastecimento, onde o gasto por ocasião de compra passou de R$ 41,49 para R$71,57 nesse mesmo período. Os Hipermercados, que vinham perdendo importância nos últimos anos, ganharam fôlego nesta circunstância de crise, com 61% dos lares realizando suas compras por meio de Hipers e Supers.
Os canais online também estão ganhando espaço. 41% dos lares que afirmavam, em 2019, nunca terem feito compras pela internet, usaram aplicativos de entrega na última semana de março de 2020. Desses lares, 48% são de NSE médio/baixo.
ABASTECIMENTO
Cestas que tradicionalmente são de abastecimento, como Mercearia (Doce +23,9% e Salgada +22,3%) e Limpeza (+27,9%), são as que mais cresceram dentro dos lares, seguidas por Bebidas não Alcoólicas (+12,8%) e Perecíveis (+4,1%). Já as consideradas não essenciais passaram a recuar, como Higiene&Beleza (-4,3%) e Bebidas Alcóolicas (-17,4%), por exemplo – ambas vinham registrando crescimento antes da pandemia.
“O brasileiro se abasteceu com o básico, por isso o crescimento de cestas de Mercearia e Limpeza. Mas outros itens, principalmente dentro de Higiene&Beleza e Bebida Alcóolicas retraem, visto que não são considerados essenciais neste momento de pandemia”, afirmou a especialista da Nielsen, lembrando que vários itens de H&B, por exemplo, como água micelar e tratamento de cabelos vinha registrando crescimento antes do período da crise do novo coronavírus.
Apesar de haver uma tendência pelo abastecimento da despensa para lidar com o distanciamento social, nem todos os lares têm poder aquisitivo necessário para aumentar o volume de compras. Lares que vivem na informalidade (40% da população do Brasil) e possuem orçamento mais alocado em itens de primeira necessidade, não veem opção se não economizarem com Cesta Básica, Higiene e Limpeza para “sobreviver” à pandemia, de acordo com a Nielsen Brasil.