Escrever vai muito além de uma profissão, é uma vocação que você não precisa necessariamente nascer pronta ou pronto, você pode se desenvolver.
Escrever é libertador e eu vou explicar usando como referência um filme baseado em fatos reais cujo roteiro é magnifico. Ah! Aviso que este texto contém spoilers.
O filme começa bem assim: “Na América o que importa é a aparência, se você é latino, asiático ou negro, você pode levar um tiro sempre que sair de casa. Luta-se por território, raça, orgulho e respeito.”
“Escritores da Liberdade” é o nome do filme. De um lado uma jovem professora de 23 anos em busca da sua primeira oportunidade de emprego e sua paixão pela educação, do outro, alunos desinteressados, alguns com monitores nos tornozelos para localização, pois acabaram de sair do reformatório juvenil por ter cometido algum crime.
A história desses jovens está longe de ser um conto de fadas, eles fazem parte de gangues, convivem com o preconceito, drogas, brigas, pobreza e injustiças todos dias.
Logo ao chegar no colégio a professora Erin Gruwell, apresenta seu plano de aulas à chefe do departamento, que joga um balde de água fria em todo entusiasmo dela, menosprezando a capacidade intelectual dos alunos vindos da integração obrigatória entre povos.
Ainda esperançosa, a professora comenta que o sonho dela era fazer direito, mas que defender um jovem no tribunal é quase que uma batalha perdida, foi então que decidiu lecionar, pois acredita que a verdadeira luta deve acontecer em sala de aula.
Em seu primeiro dia de aula, ela se depara com a indiferença dos alunos com relação aos estudos, e também com o desrespeito e discórdia que existe entre eles.
Se a professora Erin acha que pode ensinar esses alunos, ela pode. Assim como nós também podemos fazer tudo que queremos. Não vale desistir no primeiro obstáculo.
Com este desafio em mãos, ela passa a testar formas de prender a atenção dos alunos, assim como fazemos com o público dos nossos clientes, a fim de entendê-los e gerar conexão. Algumas tentativas vão funcionar e outras nem tanto, faz parte do processo até encontrar o tom que realmente funciona.
Preconceito e Empatia
As cenas do filme descrevem a nossa sociedade, onde pessoas vivem em uma constante guerra entre si, seja pela cor da pele, pela religião ou nacionalidade, não há espaço para diversidade.
Assustada com aquela realidade, Erin propõe reflexões para que os alunos se deem conta de que muitas vezes de tão focados em suas próprias preocupações, com a própria dor, acabam deixando de lado a capacidade de praticar a empatia no dia a dia. Todos enfrentamos alguma coisa. Exercitar a empatia é essencial para aceitar as diferenças e aprender a conviver com quem é diferente de nós.
Certo dia, um menino negro em defesa dos seus direitos diz que quando você morre pela sua gente, morre com respeito como guerreiro, e a professora debate dizendo que “pra ter respeito você precisa respeitar. Depois de morto, apodrecemos no solo, enquanto os outros seguem vivendo, esquecem-se de quem fomos. E quando você apodrecer vai fazer diferença ter feito parte de uma gangue?”
Com a objetivo de ampliar a visão de mundo dos alunos por meio dos livros e mostrar como a violência é sinônimo de perda e não leva ninguém a nada, ela apresenta à turma “O Diário de Anne Frank”. Eles não sabiam nem o que era holocausto, mas a leitura despertou o interesse deles pelo perigo do preconceito e extremismo. Anne os entende.
Escritores da liberdade
Aos poucos ela despertou nos alunos a vontade de questionar, refletir e encontrar respostas para muitas questões que lhes incomodavam. Ela então compra com seu próprio dinheiro, diários, para que eles possam escrever suas próprias histórias, como se sentem e vivem. Todos têm uma história para contar e elas merecem ser ouvidas.
Escrever ajuda a organizar os pensamentos. É autoconhecimento. As inspirações podem vir do passado, presente ou futuro. Quem quiser que ela leia deve deixar no armário dela, se não bastava escrever para si, como o exercício que propus nesse primeiro texto aqui.
O negócio é materializar em palavras o que está no coração. Dar voz para os sentimentos. Se libertar de um passado amedrontador. Planejar o futuro no presente. Se manter presente enquanto escreve, pois a escrita liberta e cura feridas.
“O sucesso vem com a experiência, então adquira experiência”, recomendou o pai dela. E este conselho serve para todos nós.
Erin Gruwell transformou os diários dos escritores da liberdade da Sala 203 do Colégio Wilson, em um livro.
Ela chegou com o sonho de implementar a educação entre aquelas pessoas e acabou transformando suas vidas pessoais. Foi motivo de união. Mostrando que a nossa dor é o nosso maior elo. O que nos une, nos fortalece. Por isso, mantenha-se aberto, aberta, às infinitas possibilidades que a vida tem para oferecer.
Toda vez que pensar em desistir de um sonho, pergunte-se: porque não? Se dê uma chance. Insista. Persista. Abra-se a novas ideias que surgem pelo caminho, elas podem superar os seus desejos iniciais. Não há nada que seja sonhado, que não possa ser realizado.
Faça o que tem que ser feito, porque é a coisa certa a se fazer.
Toda vez que uma porta se fechar, pode ter certeza que outra se abre. Quando você começa a ajudar outras pessoas a entender suas vidas, tudo começa a fazer sentido.
Erin impactou aqueles jovens, que antes não enxergavam nenhuma perspectiva em si mesmo e seus futuros. Enxergue em você o seu potencial, a sua verdadeira vocação. Todos somos capazes, alguns podem ir mais rápido que outros, mas todos temos a chance de conseguir.
Todos nós somos escritores com nossas próprias vozes e temos algo a dizer uns aos outros. E mesmo que ninguém nos leia, nós importamos. Quem começa, não para mais.
Quanto vale a sua verdade?